segunda-feira, 10 de maio de 2010

Computadores, Ferramentas Cognitivas

Computadores, Ferramentas Cognitivas
Desenvolver o pensamento crítico nas escolas

David H. Jonassen

O 9.º capítulo deste livro é:

"Ferramentas de pesquisa intencional de informação enquanto ferramentas cognitivas"
Neste capítulo são abordados alguns dos seguintes tópicos:
  • O que torna uma pesquisa significativa?
  • Navegação social;
  • Motores de busca;
  • Agentes inteligentes;
  • Avaliar a pesquisa intencional enquanto ferramenta cognitiva.
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Relativamente ao primeiro tópico, O que torna uma pesquisa significativa?, o autor chama a atenção para o facto de a World Wide Web apenas constituir um apoio à aprendizagem, se os alunos formularem uma necessidade de informação e pesquisarem de forma intencional a Web para suprirem essa necessidade.
A WWW está a transformar-se numa gigante base de conhecimento hipermédia.
Existem muitos tópicos de fácil exploração e de interesse que por vezes conduzem os alunos para fora da tarefa principal. Os alunos que utilizam o hipertexto tendem a perder-se no hiperespaço. Além deste problema os alunos também não param para relacionar a nova informação com o conhecimento que possuem e, como tal, não compreendem o que descobrem. Navegar não resulta necessariamente em pensamento e aprendizagem.
O segredo educacional da Internet é a intencionalidade. A perda de focalização durante a pesquisa apenas reforça a aprendizagem superficial e impede a construção de significados; por isso, os alunos deverão ter um objectivo claro em mente quando pesquisam a WWW. 
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Quando os utilizadores enviam uns para os outros, por correio electrónico, URL ou criam sítios Web com apontadores para os seus sítios favoritos e quando outros utilizadores começam a utilizar essas páginas como ferramentas de navegação, estão a envolver-se em navegação social. Existem dois tipos de navegação social, a directa e a indirecta. A directa exige um grupo de indivíduos com interesses comuns, que acordam em partilhar ideias e recursos. A indirecta é apoiada por contadores de visitas, pelos percursos de utilização de um dado grupo de utilizadores, ou por outras fontes indirectas de informação sobre as actividades desenvolvidas, que fornecem a frequência de acesso às fontes de informação.
Em termos de aprendizagem a navegação social directa é mais produtiva do que a indirecta.
Dieberger (1997) centrou a sua pesquisa na concepção de locais de navegação social, que definem os tipos de interacções sociais que ocorrem no seu interior. O local é importante porque, segundo Dieberger, todas as actividades humanas são influenciadas pelo ambiente em que ocorrem. Com esta ideia em mente Dieberger construiu o Juggler, um cliente baseado no HyperCard que liga os alunos a um MOO, onde eles podem navegar e encontrar informação e recursos em diferentes salas.
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Motores de busca 

O que são os motores de busca?
    Um motor de busca é constituído por uma base de dados na WWW, assim como pelas ferramentas que a geram e que lhe dão acesso. Por vezes atribui-se a designação "motor de busca" a duas ferramentas distintas: os directórios e os verdadeiros motores de busca.

    Directórios, como o do Yahoo, são bases de dados que utilizam uma estrutura hierárquica onde a classificação dos itens é feita por categorias.  Os directórios são locais onde é fácil encontrar informação quando se pesquisa na Web, porque os sítios aí incluídos são analisados por pessoas que posteriormente os agrupam em categorias apropriadas.

    Os motores de busca, como o AltaVista, o HotBot e o Lycos, são também bases de dados, mas a sua compilação é feita por programas informáticos, não existe qualquer avaliação humana das páginas nem qualquer estrutura hierárquica. Cada um destes motores trabalha em conjunto com programas designados por robôs, spiders ou crawlers que viajam pela Internet, acedendo a páginas Web e armazenando hiperligações e informação sobre cada página visitada. Estas informações são organizadas numa base de dados para que possam estar acessíveis sempre que alguém as solicite. 
    Cada robô opera de forma distinta e possui diferentes velocidades de pesquisa.

    Para aceder à informação na base de dados dos motores de busca os utilizadores digitam uma palavra ou frase, fazendo o motor de busca corresponder a essa palavra sítios Web que contêm essas palavras ou frases.
    Cada motor de busca funciona de modo diferente, em termos da forma como se pode introduzir a palavra a pesquisar. Os métodos de ordenação da relevância podem também variar. Os motores de busca podem alterar a sua estrutura e potencialidades, sem informação prévia, o que torna difícil saber se a pesquisa que foi feita num dado dia ainda é possível no dia seguinte.

    O funcionamento dos robôs baseia-se na procura de correspondências entre séries de letras, não existe qualquer avaliação humana dos sítios Web.

    Os motores de busca funcionam como ferramenta cognitiva, pois promovem o pensamento reflexivo. Quando um aluno utiliza o motor de busca, tem de avaliar e reflectir sobre o que procura e sobre como a informação pode ser avaliada.
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    Agentes inteligentes

    Os agentes inteligentes são programas informáticos que agem em representação de pessoas, ou seja, operam como agentes.
    Vários agentes inteligentes estão disponíveis no mercado e prestam auxílio aos alunos, filtrando a teia de informação disponibilizada na Internet, avaliando a utilidade da informação encontrada e transmitindo ao aluno apenas os itens de que este necessita. Estes agentes actuam como assistentes pessoais de investigação, que, de forma regular, verificam os recursos, identificando e resumindo a informação relevante para o utilizador.
    Existem muitos tipos de agentes inteligentes, alguns deles são:
    • Os agentes autónomos são assistentes pessoais que podem iniciar comunicação com outras redes ou com outros utilizadores, que executam tarefas para o utilizador e que até monitorizam as suas actividades.
    • Agentes que lêem e organizam o correio do utilizador, reencaminhando certos tipos de mensagens para outras pessoas que as possam considerar relevantes.
    • Agentes que lêem regularmente as fontes noticiosas, identificando os artigos que possam ter interesse para o utilizador e descarregando-os para o seu computador.
    • O meeting scheduler, um dos agentes mais utilizados, verifica automaticamente as agendas dos indivíduos que necessitam de se reunir, agendando-lhe as reuniões.
    • Os agentes de recolha que pesquisam numerosas fontes em busca de informação relevante. Usam motores de busca e seleccionam vários métodos para procurar a informação mais relevante para o utilizador.
    O que torna estes agentes uma ferramenta cognitiva é o facto de possuírem inteligência. O utilizador delega nos agentes a responsabilidade de se servirem dessa mesma inteligência para agirem em sua representação, sendo o utilizador quem determina como o agente funciona.


    Exemplos de agentes inteligentes 
    • Web Browser Intelligent Agent (Webby) - este agente de recolha de informação adiciona a inteligência do agente a um navegador, possibilitando aos utilizadores recordarem-se de onde estiveram na Web e daquilo que aí encontraram;
    • Knowledge Utility (KnU) -  é um sistema hipermédia de âmbito geral que oferece recolha e gestão inteligente de informação;
    • Information Overload Assistant - é um protótipo de investigação da IBM que está concebido para automaticamente categorizar e agir sobre mensagens de correio electrónico, com base nas preferências dos utilizadores.

    O uso de agentes inteligentes alivia a carga de trabalho do aluno e funciona de forma independente, notificando o utilizador quando o trabalho está finalizado. O maior benefício intelectual advém do treino que é necessário fazer ao agente, já que tal obriga o aluno a reflectir e a articular as necessidades de informação de modo compreensível para o agente.
    O utilizador e a tecnologia formam uma parceria intelectual, não podendo funcionar um sem o outro.

    Ferramentas cognitivas relacionadas 

    A navegação social recorre a meios de comunicação síncrona e assíncrona para apoiar a navegação na Internet, bem como a própria Internet.
    Os motores de busca e agentes inteligentes utilizam a Internet e a WWW enquanto fontes de informação.
    Os motores de busca, são bases de dados de URL e informação WWW. São, na realidade, metabases de dados, ou seja, bases de dados de bases de dados de informação.
    Os agentes inteligentes empregam técnicas de inteligência artificial para pesquisar a WWW em busca de informação relevante, partilhando algumas características com os sistemas periciais, que também emergiram a partir da investigação sobre a inteligência artificial. Os agentes podem funcionar como sistemas periciais que pesquisam a Web e avaliam a relevância das fontes de informação em termos das necessidades do aluno. 

    Treinar a utilização de pesquisas intencionais na sala de aula:
    1. Estabelecer um plano para a pesquisa;
    2. Utilizar ferramentas ou estratégias para pesquisar a WWW - ao apresentar aos alunos a estrutura e funções dos motores de busca, poderá ser demonstrado quais os passos de um ciclo de pesquisa;
    3. Avaliar a utilidade da informação;
    4. Utilizar fontes secundárias;
    5. Avaliar a informação de forma crítica;
    6. Recolher a informação, utilizar a mesma para o fim pretendido e mencionar a sua autoria;
    7. Colocar os alunos a reflectirem sobre a actividade quando o projecto estiver finalizado. 
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    Avaliar a pesquisa intencional enquanto ferramenta cognitiva

    Competências de pensamento crítico, criativo e complexo implicadas nas pesquisas intencionais

    As competências mais invocadas pela pesquisa intencional são as competências críticas. As competências de análise também são utilizadas, embora em menor número. A utilização de agentes inteligentes transfere para o computador quase todas as competências do pensamento crítico, ou seja, o computador, e não o aluno, desempenha a maior parte das operações cognitivas.
    A pesquisa intencional faz apelo a um ainda menor número de competências de pensamento criativo. A navegação social prolonga a informação, criando ligações entre representações alternativas. Quer a navegação social quer o uso de motores de busca recorrem a várias competências de síntese na formulação de uma pesquisa. A utilização mais consistente das competências do pensamento criativo ocorre na formulação de estratégias de pesquisa para utilizar em motores de busca.
    A pesquisa intencional pode ser considerada uma forma de resolução de problemas baseada em regras. Este tipo de pesquisa é um meio para alcançar um fim, é um processo importante que os alunos utilizam para os ajudar a construírem as suas bases de conhecimento, pelo que apoia outras ferramentas cognitivas.
    As ferramentas de pesquisa intencional de informação destinam-se a ajudar os alunos a encontrarem a informação de que necessitam para melhor representarem as suas ideias. 

    Avaliar a qualidade das pesquisas intencionais 

    Depende da idade e capacidade dos alunos. Os alunos mais jovens não irão utilizar tantos conceitos nas suas cadeias de pesquisa, ou não irão compreender os conceitos de truncatura ou de lógica booleana.
    Podem estabelecer-se os seguintes critérios para avaliar as competências de pesquisa intencional:
    • Fiabilidade dos conceitos identificados;
    • Inclusão de conceitos variáveis;
    • Construção correcta da expressão booleana;
    • Selecção de sítios relevantes. 
    Vantagens das pesquisas intencionais
    • Proporcionam acesso a uma enorme quantidade de informação;
    • Apoiam a construção de significados ao responder às necessidades de informação dos alunos.
    Limitações das pesquisas intencionais
    • Conhecer as diferenças entre os vários motores de busca pode ser uma tarefa demorada, podendo essas diferenças mudar frequentemente, o que significa que não são facilmente aprendidas;
    • A maioria dos motores de busca estão a tentar tornar a pesquisa mais simples, isto implica que o pensamento do aluno se torne menos complexo;
    • Não "representa" o conhecimento da mesma forma como o fazem as outras ferramentas cognitivas;
    • Não podem ser cumulativas. Uma pesquisa feita num dia poderá dar diferentes resultados no dia seguinte. 

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